Uma das maiores dificuldades é uma das maiores vitórias é encontro da “voz” do seu livro.
Vamos começar abordando o ponto de vista da narrativa: Normalmente, as opções mais frequentes incluem a utilização das formas gramaticais da primeira e da terceira pessoa. No entanto, é importante ter em mente que um texto pode ser contado a partir do ponto de vista da primeira, segunda ou terceira pessoa, tanto no singular como no plural. É evidente que textos escritos na segunda pessoa (usando "tu" ou "vós") são menos comuns e, quando prolongados, podem resultar em uma leitura mais arrastada e fatigante para o leitor típico.
As diferentes opções de narradores têm o poder de criar distintas atmosferas em uma história. A primeira pessoa, por exemplo, é frequentemente escolhida para gerar uma sensação de proximidade e intimidade. Isso ocorre quando o narrador é um personagem da história ou deseja estabelecer uma conexão direta com o leitor. Em um livro, por exemplo, ao começar um parágrafo com a frase "Vamos iniciar nossa jornada pela perspectiva do narrador", implícita está a ideia de que o leitor e o autor da obra compartilham um laço comum - ambos pertencem ao grupo de escritores - e estão colaborando na construção do conhecimento, como é particularmente apropriado na andragogia (educação de adultos).
Por outro lado, o narrador em terceira pessoa geralmente mantém uma postura mais distante em relação à história, agindo como um observador imparcial que descreve os eventos sem influenciar o seu desenrolar. No entanto, essa forma narrativa também pode ser usada para retratar a perspectiva de um personagem específico em uma cena.
Uma outra escolha que afeta a narrativa é o tempo verbal utilizado. Nos romances contemporâneos, é comum optar por tempos verbais no passado, onde o narrador relata os acontecimentos após terem ocorrido, seja há muito tempo atrás ou apenas instantes antes. Por exemplo: "Ruthe esticou seu corpo com prazer e notou os raios de sol que penetravam pelas frestas das persianas, pintando riscas de luz e sombra nas costas nuas de Marcos." É interessante observar que, embora os verbos estejam no passado, o leitor percebe a ação como se estivesse acontecendo no presente.
Em contraste, o uso do tempo presente gera uma sensação de dinamismo, tornando-se uma escolha mais cativante quando se deseja imprimir um ritmo ágil à leitura. Por exemplo: "Marcos corre pelo telhado e salta no vazio. Por um momento interminável, ele acredita que não conseguirá, mas, por fim, pousa no teto do prédio vizinho."
A segunda opção, ao utilizar o tempo passado, inevitavelmente retira parte da tensão e, consequentemente, da fluidez da narrativa. Isso ocorre porque, ao narrar em tempos passados, o leitor tende a associar a ação como algo que já aconteceu e está sendo relatado após a resolução do perigo iminente. A diferença é sutil, mas em textos de ação, ela desempenha um papel significativo, impulsionando o ritmo da leitura. Naturalmente, a escolha de usar essa técnica deve ser feita com discernimento, considerando o fato de que o uso do tempo presente é menos comum na literatura nacional, o que pode causar certa estranheza nos leitores.
Uma terceira consideração envolve a perspectiva do narrador em relação ao mundo da história. As opções mais comuns incluem narradores-personagens com visões limitadas, que apenas conhecem os fatos ocorrendo ao seu redor, e narradores externos à história com uma visão onisciente. Sobre esse tema, sugiro revisitar o tópico discutido anteriormente, no capítulo sobre a Produção de Cenas. Além disso, existem outras maneiras criativas de contar uma história, como narrar diferentes tramas em primeira pessoa por meio de personagens distintos.
Outra escolha narrativa, exemplificada de forma brilhante por autores como Ken Follett em "Os Pilares da Terra" e George R.R. Martin na saga "As Crônicas de Gelo e Fogo", envolve a utilização de um narrador em terceira pessoa não onisciente. Nesse caso, a "voz" do narrador é, na realidade, a perspectiva do personagem cuja visão está sendo adotada naquela cena ou capítulo. Essa técnica permite que fatos ocorridos distante do personagem protagonista sejam revelados posteriormente, criando oportunidades dramáticas surpreendentes.
Determinar a "voz" de um livro, ou de cada trama dentro de um livro, transcende essas considerações básicas. A escolha não se resume apenas ao tempo verbal, à pessoa ou à perspectiva do narrador, mas também abrange a definição da melhor forma para contar a história. Deve-se decidir se as frases serão curtas ou longas, se a linguagem será direta ou repleta de adjetivos e apostos, se será coloquial ou formal, se o tom será divertido ou sério. Não há uma regra definitiva que possa orientar a seleção da "voz" mais adequada para um livro. Se existe uma diretriz a seguir, é esta: a única maneira de aprimorar a escolha da "voz" é por meio da leitura e da escrita. Ao ler autores de diferentes gêneros, preste atenção aos recursos utilizados por eles para criar uma voz singular em cada obra. Identifique os livros com os quais você mais se identifica e retorne a eles periodicamente para absorver as lições e truques que podem enriquecer sua narrativa.
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