top of page

Pontos de Vista Narrativos




A literatura é uma tapeçaria rica e diversificada, tecida com os fios das histórias humanas. Uma das ferramentas mais poderosas que um escritor tem à disposição é o ponto de vista narrativo (POV). Ele determina através de quais olhos a história é contada, influenciando profundamente a conexão do leitor com a trama e os personagens. Vamos explorar os diferentes pontos de vista e suas aplicações na literatura universal.

 

Primeira Pessoa

Vantagens:

 

Intimidade: 

O leitor ganha acesso direto aos pensamentos e sentimentos do narrador.


Subjetividade: 

Permite uma exploração profunda da psicologia do personagem.


Imersão: 

Cria uma conexão pessoal e imediata com o leitor.


Desvantagens:


Limitação:

O conhecimento do leitor está restrito ao que o narrador sabe ou observa.


Confiabilidade:

Narradores em primeira pessoa podem ser não confiáveis, distorcendo a verdade.

 

Exemplos Notáveis:


“Moby Dick” de Herman Melville: “Chamem-me de Ismael” é um dos inícios mais famosos da literatura, estabelecendo uma narrativa íntima.


“O Apanhador no Campo de Centeio” de J.D. Salinger: Holden Caulfield guia os leitores através de sua visão cínica do mundo.

 

Terceira Pessoa Limitada


Vantagens:

 

Flexibilidade: Permite focar em um personagem sem a restrição da primeira pessoa.

Profundidade: Oferece um olhar detalhado sobre os pensamentos e motivações de um personagem.


Desvantagens:


Distância: Pode criar uma sensação de separação entre o leitor e o personagem.

Restrição de Perspectiva: Ainda está limitado ao conhecimento e experiência de um personagem.

 

Exemplos Notáveis:



“Harry Potter” de J.K. Rowling: A série segue principalmente Harry, permitindo aos leitores entenderem seus pensamentos mais íntimos.

“Orgulho e Preconceito” de Jane Austen: Embora em terceira pessoa, a narrativa é firmemente ancorada na perspectiva de Elizabeth Bennet.

 

 


Terceira Pessoa Onisciente


Vantagens:

Visão Global: O narrador sabe tudo, oferecendo uma visão completa do mundo da história.


Multiperspectiva

Pode entrar na mente de qualquer personagem, proporcionando uma visão equilibrada.

 

Desvantagens:


Complexidade:

Pode ser difícil manter a coerência e evitar a confusão com muitos pontos de vista.


Distanciamento:

Pode diminuir a conexão emocional com personagens individuais.


Exemplos Notáveis:

“Guerra e Paz” de Tolstói: Um épico que utiliza o onisciente para tecer uma narrativa complexa através de muitas vidas.


“O Senhor dos Anéis” de J.R.R. Tolkien: Embora siga muitos personagens, o narrador mantém uma visão onisciente do mundo da Terra-Média.

 

 

Segunda Pessoa


Vantagens:


Unicidade: Raro na literatura, oferece uma experiência distinta e envolvente.

Imersão: Coloca o leitor no centro da ação, como se a história fosse sua.

 

Desvantagens:


Estranheza: Pode ser desorientador e difícil de sustentar por um romance inteiro.


Limitação de Mercado: Não é tão amplamente aceito ou esperado pelos leitores.


Exemplos Notáveis:

“Se um Viajante numa Noite de Inverno” de Italo Calvino: Um romance que brinca com a forma e envolve o leitor diretamente.

“Bright Lights, Big City” de Jay McInerney: Uma narrativa em segunda pessoa que captura a desorientação do protagonista.

 

Cada ponto de vista oferece suas próprias vantagens e desvantagens, e a escolha depende do que o escritor deseja alcançar com sua história. Na literatura universal, vemos que não há uma abordagem única; em vez disso, a diversidade de perspectivas é o que enriquece nosso entendimento da experiência humana.

 



 

Pontos de vista narrativos são um dos artifícios mais importantes e decisivos na criação de uma história e pode inspirar e enriquecer escritores e leitores a explorar as muitas técnicas da literatura. Se precisar de mais informações ou quiser discutir um ponto específico, estou à disposição para ajudar. Podemos também designar como:

 

Ponto de Vista Objetivo: 

O narrador apresenta a história sem entrar nos pensamentos ou sentimentos dos personagens, como uma câmera que apenas observa os acontecimentos.


Ponto de Vista Múltiplo:

A história é contada a partir das perspectivas de vários personagens, alternando entre eles para mostrar diferentes ângulos da trama.


Ponto de Vista de Confiabilidade Variável:

Explora a ideia de que a confiabilidade do narrador pode mudar ao longo da história, afetando a percepção do leitor sobre a verdade dos eventos.


Ponto de Vista Epistolar:

A narrativa é construída através de cartas, diários ou outros documentos escritos pelos personagens, oferecendo uma visão íntima e pessoal dos eventos.


Ponto de Vista de Fluxo de Consciência:

Um estilo de narrativa que busca representar o fluxo contínuo e muitas vezes desestruturado dos pensamentos de um personagem.


Ponto de Vista Dramático:

Similar ao ponto de vista objetivo, mas o narrador sabe menos do que os personagens, criando um efeito de suspense e mistério.


Ponto de Vista de Narrador Testemunha:


O narrador é um personagem secundário que observa e relata os eventos sem ser o foco principal da história.


Ponto de Vista de Narrador Não-Humano:


A história é contada a partir da perspectiva de um animal, objeto ou entidade abstrata, desafiando as convenções narrativas tradicionais.


Ponto de Vista de Narrador Intruso:

O narrador interrompe a história para fornecer comentários, reflexões ou julgamentos, estabelecendo uma presença distinta na narrativa.


Ponto de Vista Alternado:

A narrativa alterna entre diferentes pontos de vista, seja por capítulo, seção ou até mesmo dentro de uma mesma cena.


Ponto de Vista de Narrador Coletivo:


A história é contada a partir da perspectiva de um grupo de personagens, como uma comunidade ou sociedade.


Ponto de Vista de Narrador Histórico:


O narrador relata eventos passados com o benefício da retrospectiva, muitas vezes incorporando uma análise histórica ou cultural.


Ponto de Vista de Narrador Infantil:


A história é contada através dos olhos de uma criança, oferecendo uma visão ingênua e muitas vezes distorcida dos eventos.


Ponto de Vista de Narrador Pós-Morte:

A história é contada por um narrador que já faleceu, o que pode criar uma

atmosfera de mistério ou sobrenatural.

 

Vamos ver alguns narradores em livros de vencedores do prêmio Nobel de Literatura?

Legal, não?! Então vamos lá!

 

Annie Ernaux (França, Nobel 2022)

 Em “O Acontecimento”, Ernaux utiliza um narrador em primeira pessoa para contar uma experiência autobiográfica sobre um aborto clandestino que fez nos anos 1960. A narrativa é conhecida por sua contenção clínica e introspecção profunda.

 

Abdulrazak Gurnah (Tanzânia, Nobel 2021) - Gurnah frequentemente emprega narradores em terceira pessoa que oferecem uma visão penetrante dos efeitos do colonialismo e do destino dos refugiados, como visto em suas várias obras que exploram o abismo entre culturas e continentes.

 

Peter Handke (Áustria, Nobel 2019) - Handke é conhecido por experimentar com a narrativa, muitas vezes utilizando um estilo que mistura primeira e terceira pessoa, criando uma experiência narrativa única que desafia as convenções tradicionais.

 

Kazuo Ishiguro (Reino Unido, Nobel 2017) - Em “O Gigante Enterrado”, Ishiguro utiliza um narrador em terceira pessoa que acompanha a jornada de um casal idoso em uma Inglaterra arcaica, permitindo uma exploração profunda dos temas de memória e esquecimento.

 

Alice Munro (Canadá, Nobel 2013) - Conhecida como “mestre da narrativa breve contemporânea”, Munro utiliza narradores em primeira e terceira pessoa para criar histórias caracterizadas pela clareza e realismo psicológico.

 

Orhan Pamuk (Turquia, Nobel 2006) - Em “Meu Nome é Vermelho”, Pamuk utiliza uma variedade de narradores, incluindo objetos inanimados e conceitos abstratos, para contar uma história complexa ambientada no Império Otomano do século XVI.

 

J.M. Coetzee (África do Sul, Nobel 2003) - Coetzee frequentemente emprega narradores em terceira pessoa que observam de forma distanciada, como em “Desonra”, onde a narrativa oferece uma visão crítica das complexidades sociais e pessoais na África do Sul pós-apartheid.

 

Gabriel García Márquez (Colômbia, Nobel 1982) - Em “Cem Anos de Solidão”, García Márquez utiliza um narrador onisciente em terceira pessoa que tece uma tapeçaria mágica e realista da saga da família Buendía.

 

São apenas alguns exemplos que ilustram a diversidade de estilos narrativos encontrados nas obras de escritores premiados com o Nobel. Cada autor traz uma abordagem única ao ponto de vista narrativo, enriquecendo a literatura mundial com suas perspectivas distintas.


No caso de sua escrita, leitor, a escolha de um narrador pode ser estratégica a depender do enredo ou dos sentimentos que quer vir a causar no leitor; ou ainda como essa história será realizada, pois o efeito da escolha de um outro POV narrativo é significativo em uma narração. Seja por instinto ou pensado antecipadamente é preciso em algum momento analisar seu narrador ou narradores para muita às vezes fazer ajustes dentro da dimensão de cada um.


 Quer saber com mais acuidade as condições do seu livro?




17 visualizações0 comentário
bottom of page