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Você consegue Ler?

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Vivemos tempos estranhos. Tempos estranhos para leitura e para o mundo dos livros, mas não quero aqui falar que são tempos ruins pois é uma opinião superficial. Claro que as coisas não vão às mil maravilhas para o mercado livreiro e existe um claro sintoma de que a maioria das pessoas não leem no Brasil. Mas aqueles que leem só se fortalecem.

Embora estejamos diante uma inversão histórica em 2025, pela primeira vez desde o início da série histórica (2007), o Brasil tem oficialmente mais não leitores do que leitores.

Não Leitores: 53% da população

(pessoas que não leram nenhum livro, nem mesmo em parte, nos últimos 3 meses).

Leitores: 47% da população.

Comparativo: Em 2019, os leitores eram 52%. Houve uma queda de 5 pontos percentuais.

Mas há um paradoxo do Mercado (Vendas vs. Hábito)

Embora o número de pessoas lendo tenha caído, quem lê, continua comprando — e pagando mais.

  • Dados de Varejo 2025: O Painel do Varejo de Livros (SNEL/Nielsen) mostrou em períodos de 2025 um crescimento tanto em volume (+7,7%) quanto em faturamento (+8,8%).

  • Interpretação: O mercado editorial está se sustentando em uma base de leitores mais fiel e "elitizada", que compra múltiplos livros (os chamados super consumers), enquanto a base popular de leitura está encolhendo.

 

O que estamos vendo em 2025 não é apenas a manutenção de um hábito, mas a profissionalização e a "tribalização" do consumo de livros. A internet transformou o ato solitário de ler em um evento social contínuo, criando uma "Resistência Literária" muito poderosa.

 

A comunidade leitora parou de depender dos cadernos de cultura dos jornais ou das vitrines das grandes livrarias para decidir o que ler.

  • Validação pelos Pares: A recomendação de um booktoker ou booktuber que "fala a minha língua" tem muito mais peso (conversão de venda) do que uma crítica acadêmica. Se uma comunidade nichada (ex: fantasia nacional, dark romance, ficção cristã) abraça um livro, ele se torna best-seller independente da grande mídia.

  • O Efeito "Ressurreição": Essas comunidades são tão fortes que conseguem reviver livros lançados há 10 ou 20 anos que estavam esquecidos, simplesmente porque um influenciador viralizou um trecho emocional. A comunidade dita o catálogo, não o contrário.

 

Se devêssemos alertar o mundo sobre a Leitura e o porquê de ler deveríamos fazer de uma maneira bastante profunda. Basicamente para se entender o que se ganha com algo lento nos diz de hoje. E o que define hoje a discussão da Leitura deveria ser pura e simplesmente o por quê me empenhar em algo lento, receber informação e ideias de modo lento. E a resposta não é só a velocidade, mas a natureza de toda absorção e configuração da mente diante um mundo excessivo e absorção superficial de tudo.  Sim a velocidade o modelo de informação e conhecimento tem um só objetivo ser superficial, isso não quer dizer que as informações são inúteis, mas tudo que é importante nesse mundo é simplesmente prático e nada absolutamente tem algum contexto intelectual.

 

Uma das coisas mais problemática da dominância e natureza dos algoritmos é que os algoritmos das redes sociais só mostram o que você já gosta ou que confirma o que você já pensa. Isso cria pessoas radicais, intolerantes e com visão de túnel. O mundo está perdendo a capacidade de entender o "outro".

A leitura de livros (sobretudo ficção) é a única criação que permite que você seja outra pessoa por algumas horas. Você sente a dor, o medo e a alegria de alguém que vive em um país diferente, em uma época diferente ou com uma realidade oposta à sua.

O que por fim acontece é que você desenvolve  inteligência emocional e lábia. Entender a mente humana através dos personagens te torna melhor em negociações, liderança e relacionamentos reais, porque você consegue "ler" as pessoas melhor do que quem vive na bolha digital.

Uma outra coisa incrível que acredito que aconteça é que você está basicamente fluindo por um complexo modelo de criatividade composto pelo fluxo criativo de um autor. Eu acredito que como lemos repassamos pelo criativo do autor e mesmo sem perceber ganhamos um pouco de diversos elementos criativos e intelectuais do processo do autor.

 

Então percebe como isso é muita coisa. E daí a pergunta desse post: Você consegue Ler? Por que se consegue deveria ler mais e se não consegue deveria dar um jeito, persistir e aprender a ler pois você está perdendo muita coisa e essas coisas transformam seu cérebro e sua vida.

E o que o mundo está perdendo? Muitas coisas os não leitores perdem:  Entre elas que a leitura aciona em sua cognição nunca será acionado com os padrões frenéticos das mídias hoje usado em demasia pelos não-leitores. Nunca terá uma concentração profunda se não ler. A leitura de um livro exige foco sustentado. É musculação para o seu córtex pré-frontal. A atrofia da imaginação. Quando você assiste a um filme ou vê um TikTok, o visual está pronto: a roupa do personagem, o tom de voz, o cenário. Seu cérebro é passivo, ele apenas "recebe" a informação mastigada. Estamos criando uma geração que tem dificuldade de visualizar o futuro ou criar soluções originais porque só consome o visual pronto.  A Leitura expande sua criatividade lateral. Você se torna melhor em encontrar soluções onde ninguém vê, porque seu cérebro está acostumado a construir cenários do zero, não apenas a aceitar o que está na tela.

As máquinas pensam por nós, oferecem respostas antes mesmo de formularmos as perguntas. Tudo está pronto, embalado, servido numa bandeja digital. E no meio dessa pressa toda, dessa urgência de ter tudo já, a leitura profunda vai se tornando uma espécie rara de prazer – quase uma rebeldia silenciosa.

Ler de verdade não é apenas passar os olhos pelas letras. É como plantar uma semente na terra fértil da imaginação e esperar, com paciência de jardineiro, que ela germine, crie raízes, brote, cresça. É deixar que as palavras do outro conversem com as palavras que moram dentro de nós. É dar tempo ao tempo para que o pensamento aconteça, como quem espera o pão crescer no forno.

Num mundo de respostas instantâneas, saber pensar devagar será o grande luxo. Porque não se trata de acumular informações como quem empilha tijolos. Trata-se de construir janelas por onde a consciência possa olhar o mundo de outro jeito, com outros olhos, com alma mais desperta.


Um livro não é apenas um objeto com páginas. É um convite para a transformação. Cada livro que você lê muda quem você é. Você não sai do último capítulo sendo a mesma pessoa que entrou no primeiro. E isso, essa metamorfose silenciosa, é o que nos torna mais humanos numa época em que tudo conspira para nos transformar em réplicas uns dos outros.

Então, que a gente não perca essa capacidade de se demorar nas palavras, de saborear as ideias como quem degusta um vinho. Porque é justamente aí, nessa lentidão quase esquecida, que mora a nossa humanidade mais profunda.

 
 
 

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