Por que existem os Escritores?
- Alexandre Boure
- 3 de set. de 2020
- 4 min de leitura

Já foi dito nesse blog que a primeira pessoa a ser considerada um escritor foi na verdade uma escritora. A poetisa acadiano / sumério Enheduanna (2285 aC-2250 aC) é por amplo acordo considerada a primeira escritora conhecida do mundo. Veja isso no artigo: Como ser escritor quando não se é escritor? Mas isso é apenas o registro inaugural que tinha que começar por alguém e foi com Enheduanna que foi a primeira pessoa a trazer ao mundo algo como um livro e ter uma produção literária ao longo da vida. Contudo quando falamos do espírito de ser escritor, de quando podemos datá-lo? Quando surgiu essa necessidade? Bem, a escrita é parte fundamental disso e ela foi criada pelos sumérios há 4.000 a.c, tudo que você leu até hoje foi graças a essa milagrosa e ousada invenção que ocorreu milênios atrás. No interessante artigo Ser Escritor - uma arte roubada dos Deuses você pode conhecer mais dessa incrível história. Mas não podemos definir a mágica e inerente necessidade de contar histórias de nós humanos, de nós indivíduos e comunidade ao invento da escrita, está muito além disso. A escrita criada pelos sumérios é apenas a ferramenta para permitir uma incrível sofisticação e transformação e assim as histórias poderem chegar a leitores diversos e poderem ser lidas e vividas. Como uma fórmula poderosa de apropriação do tempo espaço. Se antes tudo deveria ser escutado in loco depois do invento da escrita e da sofisticação da linguagem o sujeito poderia “vencer o tempo” e tomar a história pra si quando bem entendesse, lendo-a. Ok ok. Mas o artigo me dá o título:
Por que existem os escritores? Bem, sem dúvida a existência de escritores era algo inevitável. Ocorreria de qualquer maneira. Podemos considerar os escritores a partir da poetisa Enheduanna há cerca de 2.250 a.c. Essa é parte em que começa o refinamento do pensamento em forma de linguagem e se dá início ao texto literário que conhecemos. É aí que a civilização humana passa a se enriquecer não só ampliando conhecimentos essenciais como abstratos, no caso a poesia. A literatura até hoje é a mais poderosa ferramenta humana de transmissão de uma realidade a qual você não esteve presente para vê-la. E por isso escritores existem. Para trazer a si uma experiência que não tenha participado, ou até mesmo uma vida. Com toda tecnologia alcançada em captação de imagem e som nada se compara em transmitir uma realidade não vivida com a literatura. Só a experiência pessoal pode superá-la. Ou seja, digamos que você foi até a Mongólia e cavalgou nos desertos, não haverá texto literário que irá superar essa experiência, contudo um texto literário que descreva com qualidade essa experiência será muito superior a sensação de ver a mesma situação em um filme. Os filmes nunca superarão um bom texto literário. Os filmes só existem por que a tecnologia permitiu. O roteiro não é um texto literário de alta qualidade, ele serve apenas de guia para criação das cenas. Um diretor vai precisar de muito talento para filmar e obter um resultado cena a cena como consegue um escritor de talento em um bom livro. Na maioria dos casos o diretor de cinema não vai alcançar um alto nível literário em seus filmes.
A necessidade de contar histórias sempre existiu e em partes devemos a essa nossa necessidade o fato de estarmos aqui hoje na condição que estamos. Desde nossos ancestrais caçadores-coletores nos muníamos de histórias estruturadas e publicadas envolta a uma fogueira. Que serviam para nos livrar do perigo. E elas tinham início meio e fim, exatamente como as histórias que lemos. Esses “escritores” primitivos eram contadores de história e não sabiam. Não só histórias úteis do cotidiano que serviam para você tomar cuidado a passar por uma lagoa pois havia um crocodilo que atacava por detrás de uma pedra, como as fantasias, e invencionices o que no Brasil é chamado de “causos” tudo isso já ocorria e é nessa era primitiva que os “escritores” surgem. Contudo sem a linguagem sofisticada passar adiante uma história era um desafio e quando se podia fazer era algo limitado, muito longe da robustez de um texto.

Por exemplo essa cena do cotidiano requer um conhe-cimento prévio da pré-história para se extrair algo mais amplo, , mas não nos dá muita informação, nem 5% do que um escritor capacitado poderia nos dizer em 2 páginas desse coti-diano pré-histórico se pudesse experimentá-lo. Já o gênero fantasia era muitas vezes representada em esculturas, tudo isso faz parte da mesma matéria-prima que a ficção literária se originou.

Esse “homem-leão” datado de 32 mil anos atrás pode refletir uma necessidade de eternizar a fantasia da época, mas só com escrita poderíamos ter a dimensão da imaginação do seu escultor e o significado real dessa peça.

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